quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

- Olá!
- Oi.
- Posso lhe dizer uma coisa?
- Claro, diga o que quiser.
- Vai demorar.
- Tenho tempo de sobra.
- Conheci umas pessoas.
- Que pessoas?
- Duas pessoas. Elas se amavam. A moça era muito jovem,tinha uns 17 ou 18 anos, acho. O rapaz era bem mais velho. Era bruto e rude. E ela era muito bonita, sabe?
- Sei.
- Eles faziam de tudo uma aventura, ela adorava isso. Uma simples ida ao mercadojá era uma aventura. Sempre riam de bobagens,ele adorava vê-la sorrir. Não se importavam com o resto, porque só queriam uma coisa... Ficar sempre juntos.
- Parece que eram muito felizes.
- Sim, eles eram felizes. E ele... a amava mais doque... julgava ser possível. Não suportava ficar longe dela enquanto trabalhava. Então ele largava o emprego. Só para ficar com ela em casa. Quando faltava dinheiro,ele arrumava outro trabalho. Depois ele se demitia novamente. Mas daí ela começou a se preocupar.
- Com o quê?
- Com a falta de dinheiro. Por não saber quando chegaria o outro cheque.
- Sim, sei o que é isso.
- Daí ele começou a se atormentar.
- Como assim?
- Por ter que trabalhar para sustentá-la... mas não suportavaficar longe dela também.
- Entendi.
- Quanto mais ele ficavalonge dela, mais enlouquecia. Até que ele enlouqueceu de verdade. Ele começou a imaginar todo o tipo de coisas.
- Que coisas?
- Que ela começara a sair... com outros quando elenão estava em casa. Quando voltava, ele a acusava de ter ficado com outros. Ele gritava e quebrava tudo no trailer.
- No trailer?
- Sim, eles moravam num trailer.
- Desculpe-me, senhor, mas não esteve aqui ontem? Não quero ser intrometida.
- Não.
- Pensei ter reconhecido sua voz.
- Não, não era eu.
- Sei. Continue.
- Então ele começou a beber muito. Passou a voltar tarde para casa para testá-la.
- Como assim, testá-la?
- Para ver se ela sentia ciúmes.
- Ele queria que ela sentisse ciúme, mas ela não sentia. Só se preocupava com ele, oque o enfurecia ainda mais.
- Por quê?
- Porque pensava que seela não sentia ciúmes... não se importava com ele. E os ciúmes seriam umsinal de que ela o amava. Então numa noite... Ela contou que estava grávida. De uns 3 ou 4 meses. Ele não sabia. E, então, tudo mudou. Ele parou de beber econseguiu um emprego fixo. Ele se convenceu do amor,pois ela levava um filho dele. Ele ia se dedicar inteiramente a lhes dar um lar. Mas aconteceu uma coisa estranha.
- O quê?
- No início ele não reparou,mas ela havia mudado. Desde que a criança nasceu,tudo em volta a deixava irritada. Até o bebê pareciauma injustiça para ela. Ele se esforçava para agradá-la. Dava-lhe presentes... Levava-a para jantar toda semana... Mas nada a satisfazia. Durante dois anos ele fez tudo para que voltasse a ser como era. Finalmente, acabou entendendo que isso seria impossível. Daí ele voltou a beber e as coisas pioraram.
Quando voltava tarde, ela não ficava mais preocupada... nem com ciúmes. Ela só ficava furiosa. Ela o acusou de tê-la raptado só para fazer um filho. Dizia que queria fugir, que só sonhava com isso. Via-se correndo a noite nua pelos campos, sempre a correr. Sempre que estava prestes afugir, ele aparecia e a impedia. Ele sempre chegava para impedi-la. Quando ela lhe contava esses sonhos, ele acreditava. Sabia que se não a impedisse, ela fugiria para sempre.
Daí ele amarrou um guizo ao tornozelo dela... para ouvir se ela tentassese levantar da cama à noite. Mas aprendeu a abafar o som com a meia para sair no meio da noite. Um dia a meia caiu enquantoela tentava fugir pela estrada. Ele a pegou e a prendeu no fogão com um cinto. Deixou-a ali e voltou a se deitar. Ouviu-a gritar sem se mexer. Depois ouviu o filho aos gritos. Ele admirou-se de nãoquerer saber de mais nada. Ele só queria dormir. E pela primeira vez, ele quis ficar bem longe dela... Perdido num país enorme onde ninguém o conhecesse. Num lugar sem idiomas... e sem ruas. Ele sonhou com esse lugar sem saber o nome.
E quando acordou, ele estava num incêndio. Chamas azuis queimavam os lençóis da cama. Correu para acudir os únicos dois que ele amava. Mas eles tinham sumido. Seus braços estavam pegando fogo. E ele saiu de casa e... rolou-se no chão molhado. Daí ele correu. Ele nunca olhou para trás para ver fogo. Só correu. Correu até o sol nascer. Até não poder mais. E quando o Sol se pôs, ele tornou a correr. Ele correu assim por 5 dias. Até que, sem deixar sinais... ele desapareceu.

Um comentário:

  1. Caramba, quando eu entrei nesse blog e vi esse texto gigante fiquei até com preguiça de ler, mas li rs, muito bom, o final principalmente. Não se deixa alguem tomar conta dos seus sentimentos, pq um dia vc vai perceber que isso foi demais, e já vai ser tarde.
    vi seu blog na comu do clube da luta, resolvi entrar =P
    bj, se puder visite meu blog
    http://limoesdepapel.blogspot.com

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